terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a tal prioridade



Chegou a hora tão temida pelo torcedor do Flamengo. O jogo de amanhã, contra o Universidad de Chile, pela Copa Libertadores, e o de sábado, contra o Vasco, pelo Campeonato Carioca, anunciam o momento delicado com o qual o clube já mostrou incapacidade para lidar inúmeras vezes: o de priorizar uma competição de caráter nacional ou internacional em detrimento do Campeonato Carioca.

Sim, o assunto pode ser encerrado já nos próximos dias, pois uma derrota para o Vasco elimina o Flamengo do estadual e deixa o terreno livre – a depender do resultado do jogo contra os chilenos – para a briga pelo troféu sul-americano. Por outro lado, se o clube conquistar a classificação para a final da Taça Rio, vai prolongar por no mínimo mais uma semana a disputa simultânea das competições.

A decisão parece fácil: esnoba-se o deficitário estadual e concentra-se no torneio de maior apelo esportivo e financeiro. Mas a história guarda inúmeros casos de fracassos rubro-negros em situações similares. A torcida se fartou de ver o time faturar o Campeonato Carioca enquanto dava adeus, muitas vezes de forma vexatória, à Copa do Brasil ou à Libertadores – o auge foi a derrota para o América do México, em 2008.

O fato é que, apesar dos discursos de Bruno e de Ronaldo Angelim, que juram não ter digerido até hoje os gols de Cabañas, e das recentes palavras de Andrade, ao pregar a importância da Libertadores, ainda é impossível saber se o Flamengo aprendeu com o passado recente. A cultura do estadual é muito forte no Rio de Janeiro. Contagia os cartolas do clube, que deveriam ser imunes a isso, e os jogadores.

Não me esqueço até hoje de 2007. O Flamengo acabava de treinar em Montevidéu, na véspera do jogo contra o Defensor. Entrevistado por um repórter de televisão, o atacante Souza passou a comentar a decisão do Carioca, contra o Botafogo, que coincidia com os jogos no Uruguai. Talvez o jornalista tenha puxado o assunto, mas era evidente que a cabeça dos jogadores estava no Maracanã, e não no Centenário.

Acho perfeitamente possível, para o atual elenco rubro-negro, disputar as duas competições para ganhar – com ou sem Adriano. Mas é necessário ter capacidade para minimizar um eventual fracasso no Campeonato Carioca, papel que cabe à diretoria, por mais que a freguesia solte rojões em caso de derrota rubro-negra. Como costuma dizer o amigo berna beat, do blog mengo beat, aturar é uma virtude.

O Flamengo precisa apostar todas as suas fichas na Libertadores. Vencê-la ou não é outra história.

Incapacidade crônica

Veja algumas ocasiões em que o Flamengo foi campeão carioca, mas acabou eliminado de torneios mais importantes por valorizar excessivamente o estadual:

2000
Flamengo 3 x 0 Vasco – Campeonato Carioca (decisão) – 11/6
Vasco 1 x 2 Flamengo – Campeonato Carioca (decisão) – 17/6
Flamengo 0 x 4 Santos – Copa do Brasil (quartas-de-final) – 21/6
Santos 4 x 2 Flamengo – Copa do Brasil (quartas-de-final) – 24/6

2001
Coritiba 3 x 2 Flamengo – Copa do Brasil (quartas-de-final) – 16/5
Flamengo 1 x 2 Vasco – Campeonato Carioca (decisão) – 21/5
Flamengo 1 x 1 Coritiba – Copa do Brasil (quartas-de-final) – 23/5
Vasco 1 x 3 Flamengo – Campeonato Carioca (decisão) – 27/5

2007
Flamengo 2 x 2 Botafogo – Campeonato Carioca (decisão) – 29/4
Defensor 3 x 0 Flamengo – Copa Libertadores (oitavas-de-final) – 2/5
Botafogo 2 x 2 Flamengo (2 x 4) – Campeonato Carioca (decisão) – 6/5
Flamengo 2 x 0 Defensor – Copa Libertadores (oitavas-de-final) – 9/5

2008
Flamengo 1 x 0 Botafogo – Campeonato Carioca (decisão) – 27/4
América (MEX) 2 x 4 Flamengo – Copa Libertadores (oitavas-de-final) – 30/4
Botafogo 1 x 3 Flamengo – Campeonato Carioca – (decisão) – 4/5
Flamengo 0 x 3 América (MEX) – Copa Libertadores (oitavas-de-final) – 7/5

* Post dedicado ao mestre Milton Cabral, tricolor de coração, que sempre me incentivou a escrever. Obrigado, Milton.

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