sexta-feira, 16 de abril de 2010

World of pain



Está lá no GloboEsporte.com, em matéria assinada por Eduardo Peixoto e pelo bem informado Eric Faria, o mesmo que cobriu o jogo para a TV Globo direto do gramado: no intervalo de Universidad Católica 2 x 0 Flamengo, em Santiago, Bruno e Petkovic se desentenderam seriamente. Terminado o primeiro tempo, o goleiro desceu para o vestiário acusando o sérvio de falta de empenho. Partiu para cima do colega e tentou acertar-lhe um soco. Outros jogadores apartaram a confusão.

Além de expor o clima atual da Gávea, a briga é semelhante a outra, também ocorrida durante vexame rubro-negro na Libertadores. Em 2007, no estádio Centenário, em Montevidéu, Juninho e Ney Franco bateram boca rispidamente no vestiário. O meia se irritou ao ser substituído pelo técnico, em jogo que o time perderia por 3 x 0. A eliminação viria uma semana depois, após insuficiente vitória por 2 x 0, no Maracanã, sem Juninho, que teve o contrato rescindido após o incidente.

Naquele ano, o Flamengo também alternava a disputa da Libertadores com jogos decisivos pelo Campeonato Carioca, contra o Botafogo. Quatro dias depois de cair fora do torneio continental, o clube conquistou o título estadual nos pênaltis. Durante a comemoração, o comportamento de praxe de qualquer boleiro: o meia Renato disse que a imprensa inventara um racha no elenco e o volante Claiton, que não desperta saudades, mandou um abraço para Juninho.

A confusão de agora, no entanto, é muito mais grave. Não só por ser preocupante ver o capitão do time, um dos líderes entre os jogadores, goste-se de Bruno ou não, se atracar com um ídolo do clube, embora Pet seja conhecido pelo difícil temperamento. Também não é apenas pela importância dos dois em campo - em boa fase. Mas, principalmente, porque o esse Flamengo tem potencial infinitamente superior àquele de Juninho e de Ney Franco, mas não tem jogado nada.

A partir daí, surgem as perguntas. Pet está sem clima no clube em 2010, mas será que todos no time o enxergam como um problema? Acusar o sérvio de fazer corpo mole mascara a falta de empenho de todos os jogadores? Farão de Pet um bode expiatório para os possíveis fracassos rubro-negros no semestre? O time está apenas em má fase técnica e tática ou, além disso, como acredito, não tem corrido o suficiente? E, se não tem corrido o suficiente, porque isso acontece? Estaria Andrade sem moral?

Tenho cá minhas opiniões, mas é impossível saber de tudo. Isso é tarefa para os repórteres que cobrem o clube, embora tais crises costumem vir à tona somente quando os resultados em campo não são satisfatórios. Um título tem o poder de encobrir tudo, como os problemas de relacionamento do Corinthians de Luxemburgo, Marcelinho, Rincón e Edílson, campeão brasileiro em 1998, e do Botafogo de Túlio e Wilson Gottardo, que não se aturavam, mas deram ao clube o título brasileiro em 1995.

Caso o Flamengo derrote o Botafogo no domingo, conquistando a classificação para a final do Campeonato Carioca, diante do mesmo Botafogo, e garanta vaga, semana que vem, na próxima fase da Libertadores, a pressão será aliviada. Mas tais resultados não serão suficientes para encobrir o problema. É preciso que alguém com autoridade sobre o elenco assuma o pepino, resolva a questão e sacuda o time. Não dá para esperar resultados caírem do céu de uma equipe  que tem se apresentado abaixo da crítica.

No fim das contas, a história desse time será contada a partir dos resultados. Se o Flamengo de 2010 for um time campeão, dentro de 10 anos poucos vão lembrar-se das péssimas atuações da equipe e de alguns problemas extra-campo – fabricados ou não – que têm marcado a temporada. Se for um time derrotado, alguém vai levar a culpa: Adriano, Pet, Bruno, Vagner Love, Leo Moura, Andrade, Marcos Braz... Ninguém estará livre do julgamento.

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