segunda-feira, 5 de abril de 2010

São todos iguais (até no basquete, até no DF)




Enquanto os jogadores do Flamengo sofriam para segurar Alex e Gulherme Giovannoni, do Universo, a torcida rubro-negra se empolgava nas arquibancadas do Ginásio Nilson Nelson, ontem, em Brasília. Ao contrário do que acontece nos dias ruins do time de futebol, a galera apoiava sem restrições a equipe de basquete. Mas era complicado distinguir os gritos, já que eles partiam de três diferentes grupos organizados que não se entendiam, numa triste cópia do modelo do Rio de Janeiro.

O local não estava lotado para o jogo da última rodada da fase de classificação no Novo Basquete Brasil (NBB). Tímida quando transposta do acanhado ginásio da Asceb para o gigante Nilson Nelson, a torcida organizada do Universo, que não é mesmo muito numerosa, ocupava um único lance de cadeiras – exatamente como o espaço destinado aos torcedores visitantes no Maracanã, no caso do futebol. Os demais simpatizantes do time espalhavam-se pela arquibancada relativamente vazia.

A torcida do Flamengo, mais concentrada, teve direito a espaço considerável, também na arquibancada. A poucos minutos do início do jogo, a Urubuzada já fazia festa. A Jovem Fla chegou pouco depois, uma rapaziada bem jovem, acompanhada de um colorado e de um são-paulino. A falta de entrosamento começava: apesar de próximos, os grupos cantavam músicas diferentes durante boa parte do tempo.

A paz terminou quando a Raça Rubro-Negra apareceu no ginásio, por volta da metade do segundo quarto, num momento em que Flamengo e Universo erravam bastante. Os recém-chegados subiram correndo os degraus da arquibancada e foram de encontro à Jovem Fla. Os dois grupos, separados por uma cerca de ferro, se encaravam e se ofendiam. Famílias que estavam próximas mudaram rapidamente de lugar. E a Polícia Militar precisou marcar presença para abortar o confronto iminente.

Por conta do princípio de tumulto, poucos torcedores acompanharam o empenho da equipe de Marcelinho durante parte do segundo quarto. A atenção voltou para o jogo no momento exato da bela cesta de três pontos de Duda, que garantiu a virada rubro-negra no período: 40 x 39. Foi um dos raros momentos de grito em uníssono, com o tradicional “Sai do chão / sai do chão/ a torcida do Mengão.”

Sorte que quase nenhum torcedor do Flamengo notou a violenta discussão do pivô Wagner com Mineiro e Rossi, do Universo. O empurra-empurra aconteceu no caminho para os vestiários, do outro lado do ginásio, longe dos rubro-negros, mas muito próximo das cadeiras onde estava a organizada do time de Brasília – estes se amontoaram na grade para acompanhar a confusão.

Na segunda metade da partida, os ânimos das arquibancadas já estavam controlados. Os tranquilos  integrantes da Urubuzada seguiam seu ritmo naturalmente. O pessoal da Raça e da Jovem, separados pela cerca de ferro e pela Polícia Militar, cumpria o ritual de trocar ofensas, descer até o bar para pegar cerveja, acender um cigarro, voltar para o grupo, jogar conversa fora e apoiar o time.

Os gritos desentrosados, porém, continuavam. Acompanhei a segunda metade do jogo no lance mais baixo da arquibancada, a certa distância das organizadas, e me perguntei se os jogadores conseguiam distinguir algo na confusão dos cantos. As vozes se uniam somente na hora do “Vamos virar, Mengô”, que se revelou infrutífero num dia pouco inspirado dos jogadores do Flamengo – o Universo venceu por 90 x 83.

Se os torcedores importassem do Rio de Janeiro somente os gritos de guerra e o conhecimento necessário para fazer uma festa bonita, o time agradeceria. Num dos raros momentos de união nas arquibancadas, alguns jogadores olharam na direção da torcida enquanto o técnico Paulo Chupeta conversava com os atletas. Talvez pensando que poderia ter sido assim durante toda a partida.

Fica a lição para os jogos do Flamengo pelo Torneio Interligas, que começa amanhã e termina na quinta-feira, também no Nilson Nelson.

* Texto atualizado na manhã de terça-feira, 6 de abril, após divulgação da tabela do Torneio Interligas.  

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