segunda-feira, 19 de abril de 2010

Embromação pós-derrota: uma pretensa análise macro


Aos desesperados, que imaginam estar tudo errado na Gávea e defendem a troca de todos os jogadores, do técnico, da diretoria e da presidenta, não custa lembrar: o Flamengo já viveu dias muito piores. Quem tem menos de 30 anos (meu caso) e começou a acompanhar o clube na década de 90 foi obrigado a suportar intermináveis temporadas de sofrimento, com destaque para ausência de títulos importantes e o consequente apequenamento da instituição. Uma espécie de ressaca pós-Zico.

Nos tristes anos após o Penta, conquistado em 1992, o Flamengo habitou-se às campanhas medianas ou à fuga do rebaixamento no Campeonato Brasileiro; contratou grandes jogadores e montou grandes elencos que não deram em nada; sofreu goleadas memoráveis; atrasou salários; perdeu a credibilidade a ponto de jogadores medianos recusarem ofertas rubro-negras para aceitar propostas de clubes do porte do São Caetano e similares, onde receberiam em dia e teriam paz no trabalho.

Houve momentos de consolo ao longo desse período, como a hegemonia rubro-negra no Campeonato Carioca, especialmente o Tri conquistado sobre o Vasco, em 1999, 2000 e 2001, quando o rival, em grande fase, faturava títulos nacionais e internacionais. Ou a heróica conquista da Copa Mercosul sobre um Palmeiras infinitamente superior, comandando por Felipão e com jogadores do nível de Alex, Zinho, Asprilla, Marcos e Arce. Pouco, no entanto, para grandeza do clube.

A intenção desse texto não é negar ou mascarar as falhas atuais, mas ressaltar que o Flamengo, apesar de tudo, evoluiu. Nos últimos quatro anos, o clube faturou a Copa do Brasil, três Campeonatos Cariocas e quebrou o jejum de 17 anos sem conquistar o Campeonato Brasileiro. Aliás, voltou a fazer campanhas dignas na competição, como comprovam o terceiro e o quinto lugares nas edições de 2007 e de 2008, respectivamente. E tem garantido presença constante da Libertadores.

Os crônicos problemas rubro-negros, no entanto, não podem ser ignorados. Os principais, a meu ver, a velha política do privilégio às estrelas, como já aconteceu com Romário e ocorre com Adriano, e o valor excessivo atribuído na Gávea ao título estadual, que prejudica seguidamente o desempenho do clube na Libertadores. São consequências de um problema macro, a não profissionalização da gestão do clube, mas com influência direta nos resultados.

É fato que uma mudança de cultura leva anos para acontecer, mas acho que algumas coisas poderiam ser aceleradas na Gávea. Peço apenas que a recente e significativa evolução rubro-negra seja levada em conta antes que alguma atitude drástica (ou mais drástica que o urgente e necessário choque de ordem para sacudir o time até quarta-feira) seja tomada. Se o clube sucumbir à enorme pressão, pode perder o rumo. O momento é delicado, mas não justifica o desespero.

Sobre o conturbado dia a dia, com seus fatos e personagens, escreverei depois.

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