quarta-feira, 17 de março de 2010

Já foi mais fácil


Em 99, Fla meteu sete no U. de Chile

Se a vida no Flamengo fosse como na Copa Mercosul de 1999, teríamos a certeza de uma quarta-feira mais tranquila. Não me entendam errado: lembro com perfeição daquela segunda metade dos anos 90, quando contratávamos a rodo e tudo o que conseguíamos eram um e outro Campeonato Carioca, terminar o Campeonato Brasileiro no meio da tabela e colecionar vexames. Por isso, refiro-me aqui somente à extinta competição sul-americana, encerrada após quatro edições.

O Flamengo foi o campeão da Copa Mercosul de 1999. E com um time bastante limitado, vencedor na base da camisa e da superação, fazendo jus a todos os clichês verdadeiros que dizem respeito ao clube. Mas, antes de superar o Palmeiras de Marcos, Arce, Zinho, Alex, Asprilla e outros craques comandados por Felipão, o time atropelou adversários, como os decadentes Independiente de Avellaneda e Peñarol – com direito a goleadas de 4 x 0 e 3 x 0, respectivamente, no Maracanã.

Foi na fase de grupos do torneio que o Flamengo humilhou o adversário de hoje. Num Maracanã com apenas 6 mil pagantes, o time enfiou 7 x 0 no Universidad de Chile. A vitória garantiu ao rubro-negro o segundo lugar no Grupo E, atrás do Olimpia, e a vaga nas quartas-de-final da Mercosul. Romário, demitido do clube antes da decisão contra o Palmeiras, marcou quatro vezes. Caio, Rodrigo Mendes e o obscuro lateral-esquerdo Marco Antônio completaram o placar.

Alguém pode argumentar que o Flamengo foi derrotado pelos chilenos fora de casa, no estádio Nacional, em Santiago (2 x 0). Mas é inegável que a disparidade entre os clubes brasileiros e os demais sul-americanos era mais acentuada em relação a hoje, embora a repatriação de craques do quilate de Adriano e Robinho tente provar o contrário. Na segunda metade dos anos 90, os clubes daqui faturavam quase todos os troféus do continente – a hegemonia do Boca Juniors começaria apenas em 2000.

O Flamengo de Adriano é mais forte que o Flamengo de Iranildo, mas a evolução também vale para o Universidad de Chile. Além disso, os caras só jogaram uma vez, e pelo Campeonato Chileno, desde o terremoto de 27 de fevereiro. Dois deles, o volante Marco Astrada e o atacante Gabriel Vargas, enfrentaram estradas danificadas para levar água e comida a familiares, conforme matéria de ontem d’O Globo. Imaginem a vontade de provar, em campo, que o país não se abalou.

Outro motivo para zelo redobrado no Estádio Monumental, cedido pelo Colo Colo – e que não estará lotado, pois colocaram apenas 25 mil ingressos à venda de 47 mil possíveis, por medidas de segurança: o Flamengo ainda não enterrou a tal crise, fabricada após o barraco de Adriano com a noiva, alimentada por outras investigações sobre a vida particular do craque e doida para reaparecer depois de Vagner Love estrelar involuntariamente o Fantástico. Basta uma derrota no Chile para a coisa desandar na Gávea.

Há, no entanto, razões suficientes para acreditar num Flamengo imbatível em Santiago: a capacidade já demonstrada de superar adversidades e o talento individual de vários jogadores, do goleiro Bruno ao Imperador. Vale também confiar numa boa apresentação de Rodrigo Alvim, escalado como volante ao lado de Willians, e rezar para que ninguém cometa a burrada de ser expulso sem necessidade. Fica a torcida para que, pelo menos hoje, a vida seja tranquila como na Copa Mercosul de 1999.

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