quarta-feira, 19 de maio de 2010

Flamengo, La U, Brasil e Noruega: tudo a ver


Estes senhores não cultivam o costume do respeito ao adversário.

Impossível acompanhar os acontecimentos, dentro e fora de campo, que envolvem os duelos entre Flamengo e Universidad de Chile sem compará-los aos confrontos entre Brasil e Noruega, disputados no final da década de 1990. Não pela qualidade técnica ou pelo estilo de jogo das equipes, mas pela assustadora capacidade do time com melhores jogadores levar ferros de um adversário mais fraco.

Para quem não se lembra, a Seleção Brasileira daqueles tempos era comandada por Zagallo e dispunha de geração talentosa, com um jovem e impetuoso Ronaldo, o decisivo Rivaldo, os experientes Taffarel e Dunga, campeões do mundo anos antes, em 1994, um Leonardo maduro no meio e os laterais Cafu e Roberto Carlos firmes no futebol europeu e já consolidados em suas respectivas posições.

Hoje, pode-se até questionar um nome ou outro, mas o consenso geral, na época, era o de que o Brasil tinha uma seleção fortíssima e era o favorito ao título da Copa do Mundo de 1998, na França. Pois aquele time enfrentou  e perdeu duas vezes para a Noruega: por 4 x 2, num amistoso, em 1997, em Oslo; e por 2 x 1, na primeira fase do Mundial. O carrasco era um atacante grandalhão chamado Tore Andre Flo.

Guardadas as devidas proporções, o caso do Flamengo é semelhante. Atual campeão brasileiro, o clube tem um time forte no papel, com jogadores de nome internacional (Adriano, Vagner Love e Kleberson), outros de importância reconhecida no país (como Juan, Leo Moura e o paspalho do Bruno) e iniciou o ano num clima de confiança e otimismo inéditos para boa parte da torcida.

Pois o noticiário desta quarta-feira torna o até então drama rubro-negro ainda mais parecido com o calvário da Seleção Brasileira diante dos noruegueses. De acordo com o jornal chileno La Cuarta, o técnico do Universidad de Chile, Gerardo Pelusso (foto 1), tirou uma onda com o Flamengo: chamou Adriano e Vagner Love de gordos e afirmou que a defesa do time carioca é um desastre.

Partindo-se, aqui, do pressuposto que a declaração é verdadeira: Pelusso se assemelha ao colega Egil Olsen (foto 2), que usava e abusava das ironias ao se referir a Zagallo (principalmente) e à Seleção Brasileira. O técnico da Noruega dizia, basicamente, que o time canarinho era mal treinado. E que se ele, Olsen, tivesse à disposição jogadores como Ronaldo, Rivaldo e cia, montaria um mega time de futebol.

Não dá para negar que Olsen estava certo, pelo menos com relação à Zagallo, pois a desarrumada seleção foi finalista daquela Copa graças, basicamente, ao talento individual. E é preciso admitir que Pelusso se equivoca somente ao chamar de gordo o incansável e magro Vagner Love - sim, Adriano, embora tenha emagrecido um pouco, está longe da forma ideal e a zaga do Flamengo é uma peneira.

O problema, no entanto, é o deboche desnecessário. Olsen não tinha o direito de desrespeitar a Seleção Brasileira, tampouco Zagallo. E Pelusso não tem o direito de desrespeitar o Flamengo, não importa se o time é formado por estrelas ou por novatos, nem se conta com um técnico de renome ou com treinadores pouco experientes, como o campeão brasileiro Andrade (antes) e Rogério (agora).

Embora tenha avançado mais que a Noruega naquela Copa do Mundo, o vice-campeão Brasil terminou o torneio na condição de freguês do adversário. Já o Flamengo ainda tem chance de reverter o quadro. Será saboroso demais se o clube acabar com a soberba chilena, amanhã, naquele estadiozinho mequetrefe. Até para provar que os rubro-negros não são os únicos a se estrepar quando tiram onda antes da hora.

Eu acredito.

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